quinta-feira, 24 de junho de 2010

Marcelo: "o CQC que vai ao ar não é o CQC que eu gostaria de fazer... "





















Marcelo Tas passa o dia de olho em seus dois celulares, no Twitter, no blog, e, claro, no CQC, da Band, atração muito popular atualmente. Apesar disso, aos 50 anos, ele se diz “insatisfeito” com o próprio programa. Além do desabafo profissional, fala da família, da visão que teve de sua morte, da experiência com o LSD e de política. Não demonstra empolgação com Dilma Rousseff nem José Serra e ataca duramente José Sarney: “Ele é o verme mais pernicioso da história”. Confira os melhores trechos da entrevista.


AGÊNCIA ESTADO – Você não se desliga do CQC?



MARCELO TAS – Não (risos). Mas eu só sou acionado nos pepinos mais grossos. Infelizmente, não tenho tanto poder. As equipes têm autonomia.


AE – O que não lhe agrada no CQC?


TAS – Ah (suspira). Às vezes, o programa peca. O CQC é muito homofóbico. Às vezes, tem muito palavrão, muita matéria de celebridade. Eu quero dizer que o CQC que vai ao ar não é o CQC que eu gostaria de fazer. Seguramente, digo: “A edição final não é a minha.” Sinceramente, se o CQC acabar amanhã, eu vou prosseguir feliz. Não tenho apego com as minhas coisas. Tenho apreço pelo professor Tibúrcio, pelo Varela, mas não cultivo saudosismos.


AE – Você não está feliz no CQC?


TAS – Estou. Mas, na verdade, eu tenho um alto grau de insatisfação. Este ano, estreamos bem e, de repente, demos uma relaxada. Parecia o time do Santos que, às vezes, acha que o jogo está ganho. Até hoje, estou insatisfeito com o CQC.


AE – Foi esse tipo de insatisfação que lhe tirou do interior de Minas Gerais, aos 14 anos, em busca de novas experiências?


TAS – Com certeza. E foi o rádio que me despertou muito interesse por outros mundos. Com uns nove anos, eu ganhei um radinho laranja, de ondas curtas. Eu ficava escutando e viajando pelas rádios de São Paulo, Rio e a BBC de Londres. Era quase uma internet a lenha.


AE – O que seu pai achava disso?


TAS – Ele não gostava nem um pouco. Eu tenho uma família grande, pacata, mas que depois me apoiou. Eu saí muito cedo de casa, aos 14 ou 15 anos. Fui estudar pilotagem no colégio da Aeronáutica. Dos 15 aos 18 anos, caí no mundo. Fui para a Amazônia, Pantanal, Rio, São Paulo. Eu tinha de me virar. Você era preso e tinha de criar uma tática para pular o muro e ver a namorada. Fui punido muitas vezes.


AE – Aos 18 anos, você veio para SP. Passou dificuldades?


TAS – Foi a pior fase da minha vida. Nos seis primeiros meses, vivi numa pensão na Liberdade (região central de São Paulo). Aí parecia Exército. No meu quarto, eram cinco pessoas. Todos queriam fazer engenharia. Um torcia para o outro perder uma perna. Nessa época, descobri a arte, o teatro, a música, a boemia. Fiz engenharia, comunicação, voz.


AE – E foi num desses grupos que você tirou a roupa num espetáculo?


TAS – Pois é (risos). Foi num grupo de expressão corporal. A gente fazia experiências sensoriais, de libertação sexual. Isso é anos 70: a descoberta do corpo, da Jane Fonda, do desbunde, das drogas. Eu sempre me identifiquei com os espíritos de porco (risos), com os caras que nem eram de esquerda e nem de direita. Por isso, tem gente que acha que sou a favor do Serra (PSDB). Outros da Dilma (PT).


AE – E de quem você é a favor?


TAS – Simpatizo cada vez menos com os dois. Cada um dos dois partidos tem defeitos muito parecidos. Ambos escondem sujeira debaixo do tapete, evitam falar de mensalão e envolveram-se em apoios extremamente perniciosos. Um tem o Sarney, o outro tem o Quércia. Eu prefiro não escolher entre os dois.


AE – Você diz que o Maluf é o Barrichello. Quem é o Schumacher?


TAS – O Sarney. Ele está há 54 anos no poder e continua rindo da nossa cara. Ele é o verme mais pernicioso da história do Brasil. Ele já tem uma tumba no Maranhão, feita com o dinheiro público, que fica na Av. Sarney, próxima ao hospital Sarney. Para mim, ele é uma espécie de rei do Brasil, o Bem Amado do Dias Gomes. Ele é o coronel folclórico, patético, que, infelizmente, não é de ficção. A política brasileira é raquítica. Eu não tenho um pingo de admiração. Tenho vergonha dos caras que eu admirava antes. Como o José Genoino, que andava de peito estufado e hoje é retraído, assustado. Falta muito censo crítico no País.


AE – Você leva censo crítico para os seus filhos (Luiza, 21 anos, Miguel, 8, e Clarice, 4)?


TAS – Nem preciso. Aprendo muito com eles. As crianças são termômetros, falam a verdade. Eles nos deixam em situação ridícula. No final de semana, eu joguei futebol, coisa que eu não devo fazer. Estou com as pernas moídas. Fui jogar com meu filho de 8 anos e um monte de colegas dele. Quando vi, estava envolvido, discutindo com um molequinho, vestido com a camisa do Palmeiras.


AE – Sua família cobra para você largar o computador, o celular?


TAS – A gente sempre viaja, passeia, conversa. Eu, por exemplo, viajo numa boa para um lugar sem internet. Internet é como estar de dieta: se você comeu muito num período, pega leve no outro.

























AE – Você tem vícios?



TAS – Não gosto de drogas fracas, só das fortes. Mas nunca fiquei dependente. Já usei uma variedade muito grande de drogas. Fracas, fortes, ácido... Eu sou contra o politicamente correto, mas também acho que para usar drogas tem de se programar. Eu me programei e usei LSD, numa cachoeira em Goiás. Não foi no meio de uma balada, por impulso. Mas não recomendo a ninguém.


AE – A experiência com o chá alucinógeno Ayahuasca foi um dos casos em que você foi a fundo?


TAS – Sim. Fiquei uma semana sem comer carne, fiz uma desintoxicação Foi uma busca espiritual. Eu não sou religioso, mas acredito que todos nós temos uma busca. No caso da Ayahuasca, foi uma experiência importante.


AE – Você viu alguma coisa?


TAS – Sim. Se você tiver uma pergunta, vai encontrar a resposta. O Ayahuasca é o cordão que liga a vida e a morte. Tive visões, inclusive da morte. É uma experiência que todos deveriam ter. Mas a gente evita o pensamento de morte para termos um dia feliz. Eu vi a morte, mas num sentindo de ficar de frente com o fato.


AE – O que não deixaria de fazer no seu último dia de vida?


TAS – Não deixaria de apresentar o CQC, de falar com os meus filhos e meus amigos. Eu não tenho essa coisa de: “Se eu for morrer, vou tomar champagne o dia todo”. Se eu quiser, eu tomo champagne o dia inteiro. Faria qualquer coisa para entrar numa nave espacial. Mas o turismo espacial ainda custa 20 milhões de dólares. Aqui na Band, só o Datena pode comprar essa passagem.


AE – E qual foi a vez em que perdeu o controle geral do dinheiro?


TAS – Uma vez, cometi uma burrada. A primeira grana que ganhei foi com o Varela (personagem de 1984, exibido na atração Olho mágico, na TV Gazeta), numa campanha publicitária. Eu estava tão metido, que exigi que o Fernando Meirelles me dirigisse. Foi a primeira campanha grande dele. Ganhei um caminhão de dinheiro. Peguei toda a grana (na época o valor de um bom apartamento) e dei a um corretor da bolsa. Quando voltei de um mochilão na Europa, tinha zero na minha conta. Zero!


AE – Como vê a projeção do Meirelles, que foi seu câmera, no cinema?


TAS – Fico muito feliz. Eu, de certa forma, joguei o coitadinho nesse mundo da publicidade. A gente se liga ainda, tem contato, se visita, as nossas famílias se relacionam. Estou com saudades dele.


Nossos agradecimentos a Mariana Araújo que escaneou o material para o Blog.

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